quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Cousas que nom som o que parecem (3): algo cheira no concelho de Cúrtis

Há umhas semanas, de regresso à casa desde Santiago, reparei neste cartaz à beira da estrada.

É mui provável que os pobres nativos do lugar da Cheira (que tal é a sua denominaçom real e oficial, por mais que na sinaléctica se óbvie a presença do artigo determinado) tivessem e tenham de suportar inúmeras brincadeiras por mor do peculiar nome da sua pátria pequena. E nom som os únicos. De lhe fazermos caso ao Nomenclátor de Galiza, existem outros dous pontos do nosso território que partilham tam eufónica denominaçom: um no concelho de Óia e outro no de Ponte Areas, ambos no sul da província de Ponte Vedra. Como este blogue tem (certa) vocaçom de serviço público, gostava mesmo de lhes dar a todos esses cheirenses de naçom (espero que me desculpeis a temeridade deste neo-gentílico) umha pequena arma com que se poderem defender de tais agrávios: a etimologia.
E é que, como quase sempre costuma acontecer, o topónimo nom é o que parece ser, e nada ou mui pouco tem a ver este A Cheira com agressons olfactivas nem nada semelhante. Na realidade, a forma Cheira é a evoluçom lógica e esperável de um planarĭa latino, de jeito que a motivaçom que subjaz ao nosso topónimo é a existência de umha zona especialmente plana que lhe deu nome ao lugar. De certo que  a todos nos soa muito mais umha outra forma procedente também desse mesmo étimo como é chaira, variante consagrada no nosso imaginário colectivo graças à voz poética de Manuel Maria, bardo da Terra Chá, que converteu a nossa comarca natal na Chaira por antonomásia. E é que chaira e cheira tenhem distribuiçom geográfica bastante marcada: a primeira é característica da Galiza central e oriental, e a segunda, em troques, existe na metade ocidental do país. A diferença está no tratamento do grupo vocálico que surgiu após a queda do -n-: a partir de umha forma intermeia *Chanaira, teríamos umha nova fase *Chaaira, e foi aí onde se deu a divergência, pois num caso a evoluçom detivo-se na crase da seqüência [aa] (> Chaira), enquanto no outro continuou conforme ao tratamento habitual que recebeu o ditongo [aj] na maior parte do território (> Chaira > Cheira). Casos análogos a Chaira / Cheira som, por exemplo, Quinteira / Quintaira, Lodeiro / Lodairo e muitos outros.
De todos os jeitos, a mim o que realmente me cheira mal nesse cartaz nom é o mui digno e mui fermoso topónimo que acabo de comentar (como dignos e fermosos som todos os topónimos de nosso). Cheira-me bastante mais, e bastante pior, esse Finca El Pinar espúrio, injustificado, alheeiro. Sintomático.



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