segunda-feira, 16 de julho de 2012

Cousas que nom som o que parecem (4): de santidades enganosas

Aproveitando as férias do verao, as minhas viagens a Santiago intensificam-se, e o dispor de mais tempo de lazer permite-me investigar caminhos e rotas alternativas às habituais. Sem dúvida, umha das conseqüências mais positivas disto é descobrir toponímia nova na sinaléctica das estradas, como é o caso deste nome de lugar que hoje gostava de partilhar com vós: Sanmil. É umha entidade de povoaçom da freguesia de Rodeiro (Oça dos Rios), que conta com homónimos nos concelhos lugueses de Sober e Palas de Rei.


Bem conhecido é o gosto da religiosidade popular por criar santos e santas que nom figuram nos repertórios eclesiásticos, tal e como era o caso de aquele "Sam Pedro Novo" limego que protagonizava umha das histórias d'Os escuros soños de Clío de Carlos Casares.

domingo, 10 de junho de 2012

Cousas às que pertenço (3)

Umha das cançons mais fermosas que tenho escuitado na minha vida. 
E algo me diz que umha cançom muito própria também para um dia como o de hoje.
Porque hoje os jornais e as rádios e a televisom falarám de resgate, com palavras mais ou menos edulcoradas. Mas para nós, nesta altura do filme, já qualquer palavra deglutida por eles soa a humilhaçom, a vergonha, a mediocridade, a mentira...
E, no entanto, cresce-nos dentro o desejo de lhe prender lume a algo. 
Quiçá de lhe prender lume ao breijo, como diz um dos versos desta cançom estremecida.


sexta-feira, 25 de maio de 2012

Athletic

Havia bem tempo que nom visitava estas leiras. Tenho boa ánsia delas, bem se nota! Tanto tempo que as silvas, tojos e demais estadea de ervas más a pouco mais cobrem os indefensos valados. Mas o foucinho sempre chega em tempo para manter as lindes limpas e os marcos visíveis. 
E aqui estamos mais umha vez.
Muitos dos que passais por este espaço de argila com maior ou menor freqüência sabeis que levo quase um ano a trabalhar em Bilbo. E vários de vós sabeis também que, ao longo deste tempo, a minha histórica simpatia polo Athletic (o Dépor über alles, isso sim!) desenvolveu-se muito, de um jeito acho que inevitável tendo em conta como vivem os bilbainos esse fenómeno que, por vezes, deixa de ser estritamente futebolístico para se converter numha eclosom social muitíssimo mais complexa. Quase se pode dizer que numha autêntica (sub)cultura. Há que morar lá para entendê-lo, ou quando menos para perceber umha mínima parte da sua magnitude.
Por isso gostaria de partilhar com vós este vídeo que me chegou através do correio eletrónico. Um vídeo que tem a ver com o que venho de escrever no parágrafo anterior, e também em boa medida com outras cousinhas que um vai lendo nas suas incursons por blogo-leiras afins e com as que nom pode menos que concordar. Um vídeo, no fim de contas, que tinha de aparecer obrigadamente por aqui num dia como o de hoje.
Que gosteis. E, por suposto, Athletic Athletic, geuria!!!

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Cousas às que pertenço (2)

Agora mesmo nom temos pátria.
Agora mesmo pertencemos ao incêndio e o nosso hino escreve-se em pentagrama de cinsa.
Sobre as ruínas da colónia que fomos (e seremos), erguerá-se (erguerám) umha catedral de eucalipto e de moinhos eólicos.
O deserto somos (e seremos) nós.
Por isso solicito asilo mental no violino e na estridência...

sábado, 31 de março de 2012

Cousas às que pertenço (1)

Gosto de pensar que pertenço a cousas como esta...

sexta-feira, 23 de março de 2012

Die young, leave a good-looking corpse

Há uns dias, comentando na aula a morte precoz de alguns dos nossos grandes poetas (nomeadamente Manuel António e Amado Carvalho), lembrei-lhes aos meus alunos umha dessas frases que fam parte da mitologia rock: "Morre novo e deixa um cadáver fermoso". Fazendo umha interpretaçom um bocadinho mais ampla desta cita, quiçá o melhor conselho que podemos tirar dela seja este: quando vejas que começas a nom ter nada para dizer, melhor fica calado. E se ainda por acima tiveche a imensa fortuna de produzir obras gloriosas e maravilhosas durante a tua mocidade, dessas que serám lembradas como fitos referenciais algum dia, para que expor-te a fazer-lhes sombra estirando inecessariamente umha criatividade que esmorece?
Bom, aplique-se o conto aos nossos amigos (habituais por outro lado destas ciber-leiras) The Chieftains, que neste ano celebram os seus 50 anos de trajetória.
Conste que sempre fôrom umha das minhas bandas predilectas e, de facto, foi o primeiro grupo de música irlandesa que descobrim, lá nos meus tempos de iniciaçom no mundo da música celta, quando chegou às minhas maos o disco The Chieftains 7.


Por isso, escuitando peças tam contundentes e poderosas como esta (ou como muitas outras que zarriscam aqueles primeiros trabalhos, especialmente o glorioso The Chieftains Live), nom acaba de se compreender muito bem a necessidade que podem ter uns mestres consagrados e reconhecidos como eles de andar a repetir umha e outra vez a mesma fórmula disco trás disco, oferecendo como único aliciente umha remuda integral de caras e de colaboradores de um trabalho para o seguinte. E mais nada. Todo o demais (excepto lôstregos pontuais que nos lembram que, na realidade, a genialidade nunca acaba de se extinguir) é intercambiável.
Dá-me a impressom de que, por desgraça, os meus caros amigos Molloy, Moloney, Keane e Conneff acabárom por se converter nuns Rolling Stones da música celta. E ogalhá me equivoque, mas temo sinceramente que o nosso Carlos Núñez acabe seguindo um roteiro similar...
Em fim, celebremos entom estas vodas de ouro de The Chieftains, mas fagamo-lo com algo de trigo velho do que, afortunadamente, ainda nos fica na artesa.


quinta-feira, 22 de março de 2012

Umha de cemitérios

Entre o cemitério de Begoña, em Bilbo, e o de Santa Maria de Trovo, na Terra Chá, pode haver uns quinhentos quilómetros de distáncia. 
Mais ou menos a mesma distáncia parece existir entre as duas mentalidades que gerárom estas rimas admonitórias colocadas na entrada de cada um desses dous recintos. 
O de Begoña: solene, binário (Céu e Inferno, glória e condenaçom), um bocadinho trágico quiçá. Bem nos pode lembrar o desconcerto e a angústia vitais de um Jorge de Manrique.


O de Trovo: há também admoestaçom, aceptaçom resignada, consciência do inevitável. Mas aqui som os defuntos os que falam, os que se fam donos da voz. E imaginamo-los transmutados em retranqueiros esqueletes, com os ossos a brilharen sob o luar chairego. Quiçá um deles seja posuidor de um olho de vidro. E afinal, e sentindo-o muito polo cuitado dom Ramoncinho d'Os velhos nom devem de namorar-se, todos, absolutamente todos, seremos uns...


E por aquilo da continuidade atlántica e das irmandades galaico-portuguesas, pode estranhar-lhe a alguém que encontremos exatamente a mesma mensagem e a mesma palpitaçom -metade trágica, metade escarnina- outros quinhentos quilómetros mais ao sul, concretamente em Évora?


segunda-feira, 19 de março de 2012

Os outros celtas

E se eles fossem os últimos celtas, os verdadeiros celtas? E se a celticidade, no fim de contas, fosse isso?
Às vezes é mui saudável dinamitar esquemas mentais, e no blogue Arqueotoponimia sabem fazê-lo como ninguém...

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Imbolg

É tempo de frio e de neves. Mas entre a inclemência dos dias e os esqueletes das árvores intuímos um algo de luz que cresce, umha promesa de calor e juventude. O ferro estalica-se nas forjas e as águas irrompem alagando caminhos e pradarias. Os nossos devanceiros reconhecêrom esse pálpito e chamárom-lhe Imbolg. E en Imbolg lembramos a Brigid, cujo nome evoca nos nossos ouvidos topónimos e bisbarras avondo familiares (Brigántia, Bergantinhos...) e que se transfigurou na cristianíssima Santa Brígida, patroa do Éire e senhora do lume que, lá em Kildare, jamais poderá extinguir-se.


segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

40 anos depois do Domingo Sanguento

Passárom já quarenta anos. Como diz o poema de Seamus Heaney, de novo o Bogside sangrou.
Eu cria que aquele Domingo Sanguento, aquele 30 de Janeiro de 1972, ficara codificado já nas nossas mentes como um dia de vergonha, mas também como um dia para resgatar a dignidade de debaixo das cinsas e das cápsulas das balas. Até o Governo británico, responsável último daquele massacre, foi capaz de reconhecê-lo assim nom há muito tempo.
Por isso me rebenta os fígados ter de ler cousas como as que tivem de ler hoje nalguns foros. Cousas tais como equiparar o que se passou aquele 30 de Janeiro de 1972 como os assassínios cometidos polo IRA e as súas múltiplas ramificaçons ao longo das décadas e décadas de conflito na Irlanda do Norte.
Como se na Irlanda do Norte nom houvesse, para além do IRA, umha pequena miríade de grupos paramilitares lealistas igualmente brutais, igualmente arbitrários à hora de apertarem os gatilhos.
Como se o detonador primeiro daquela guerra que arrasou os seis condados irredentos nom fosse a vulneraçom sistemática (por meio da violência explícita, mesmo) dos direitos de umha parte da populaçom de Irlanda do Norte. Como se aquela guerra nom começase o dia em que umha manifestaçom da NICRA foi atacada por incontrolados protestantes, armados com pedras e com o seu irredutível complexo de comunidade ameaçada, tam similar ao que exibem certas pessoas e coletivos nestas terras que nos toca habitar (e até aqui podo ler...).
E o que mais me dói: como se a Civil Rights Association que derramou o seu sangue naquele domingo de ruas gélidas fosse algo assim como "um trasunto do IRA"; como se Ivan Cooper -lembremos, um protestante que advogou e sofreu polos direitos dos católicos- se dedicasse a pôr bombas entre discurso e discurso; como se o que tivesse feito o exército británico naquela jornada fosse repremer um ataque com armamento pesado, e nom umha manifestaçom que exigia demandas justas com meios pacíficos.
À altura de 1972, o IRA nom gozava de muitas simpatias nos bairros católicos do Norte de Irlanda. Só uns anos antes, nos alvores do conflito, os habitantes desses mesmos bairros recebiam com os braços abertos os soldados británicos que acudiam -teoricamente- para os defender dos violentos pogromos unionistas -foi o IRA quem começou a guerra?-. A causa dos acontecimentos do Domingo Sanguento, o IRA converteu-se no último refúgio de muitas pessoas que pudérom comprovar como o governo de Londres reaccionava com poucos escrúpulos e muitas balas ante qualquer movimento da comunidade nacionalista. Nom esqueçamos a cronologia, nom ignoremos a seqüência dos feitos. Nom perdamos a perspetiva. Ou acabaremos caindo em teorias tam socorridas e aberrantes como a do "entorno", que se nos fai bem familiar -e aqui em Euskal Herria, especialmente familiar-.
De jeito que, sentindo-o muito, para mim o Domingo Sanguento seguirá sendo, como diz Ivan Cooper no final do filme Bloody Sunday, um dia de verdade, um dia vergonha. O dia do Bogisde 0-Paracas 13 (de novo Seamus Heaney).

domingo, 29 de janeiro de 2012

Ensaiando um 'blues' para a independència

Todo poderia começar com umha daquelas tristíssimas e crepusculares cançons jacobitas. Bonnie Prince Charlie a regressar sobre as águas do mar... 
Pois parece que sim, que a Escócia caminha com passo firme cara à recuperaçom dessa independência que lhe arrebatárom há 300 anos sob o disfarce de umha eufemística "uniom". Passo firme, mas também tranquilo, repousado. Nos antípodes da crispaçom enfermiça com que todas estas temáticas som esmiuçadas na opiniom pública de monarquias "bananeiras" como a que nos toca sofrer. Já me tarda escuitar nos faladoiros e tertúlias do Império Cativo um novo e inevitável mantra: "Euskal Herria nom é Escócia. Euskal Herria nom é comparável à Escócia". Tam-pouco é equiparável à Irlanda do Norte, obviedade que se encarregárom de lembrar de jeito pontual ao longo das últimas décadas, ainda que os mais ingénuos sigamos a pensar que o ruído das bombas e dos disparos era bem similar em Beal Feirste e em Arrasate, em Doire Cholm Chille e em Galdakao...
Mas os escoceses, tal e como cantou o mestre Stivell, os escoceses are right, e fam seu um discurso pragmático e incontestável que nos lembra que o capitalismo tivo o seu berço naqueles nortes de ventos e contradiçons tam similares às nossas. As verdades do capitalismo postas ao serviço de umha lógica independentista. Creio que, se estivéssemos nos anos 20, a intelectualidade galeguista daqueles dias seguiria com reverência e atençom pontual todo quanto está a se produzir na Escócia, do mesmo jeito que se atendia aos acontecimentos que tinham lugar na adorada irmanzinha que atravesou o mar. Ainda que a Risco ou a Castelao ou a dom Ramom (que só houvo e haverá um) lhe repugnassem essas veleidades monetárias contaminando o que deveria ser puro e etéreo nacionalismo.  
E ainda assim, ninguém como os escoceses, donos de um respeito sagrado polos símbolos, para dotar estes momentos históricos da necessária dose de poesia e de emoçom: o referendo, de se celebrar, terá lugar com motivo do 700 aniversário da batalha de Bannockburn, essa em que umha manda de sonhadores derrotárom o embriom do que seria o imbatível Império Británico. 
Se fosse hoje, o nom menos sonhador Alex Salmond sentaria no meio do campo de batalha e, se calhar com umha chávena de chá e um prato de haggis polo meio, acabaria convencendo a Eduardo I das bondades da liberdade escocesa. 
E assim, o que poderia começar com umha tristíssima e crepuscular cançom jacobita poderia acabar perfeitamente com um blues pola independência.