quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

O crepúsculo alucinógeno

Juntárom-se quatro um dia, os melhores deste bairro, dizia a velha copla marinheira... Ainda que neste caso, para sermos justos, os que se juntárom fôrom cinco: dous violinistas (Martin Hayes e o nosso conhecido Caoimhín Ó Raghallaig), um pianista (Thomas Bartlett), um guitarrista (Denis Cahill) e um cantante (Iarla Ó Lionaird). Nomes grandes e reconhecíveis, como pode ver-se. Dos melhores deste bairro, podíamos dizer, por seguirmos com a brincadeira. 
E esses cinco pegárom num tema também venerado e reverenciado por todos os amantes da música tradicional irlandesa como é Óro, Sé do Bheatha 'Baile. Pegárom nele e convertêrom-na nalgo novo, estranho, desconcertante, contraditório mesmo; e por todos esses motivos, fermoso e necessário. 
Numha metamorfose nom isenta de violência, o velho cántico rebelde que serviu de banda sonora à independência irlandesa vai-se precipitando nunha versom febril de Sleeping Maggie onde o violim (intuímos, como nom, que o de Caoimhín) acaba soando de jeito mui similar ao raposo moribundo evocado por Mickey Doherty em The Foxhunt. Movemo-nos, portanto, entre referências clássicas, eu quase diria que totémicas. Os visionários de The Gloaming (que esse é o nome desta banda hiberno-americana, com uns poucos meses de vida ainda) sabem-no, e a sua melhor homenagem é colher o ferro quente com ambas as duas maos e dar-lhe formas novas e alucinantes.

Óró, Sé do Bheatha 'Bhaile by Thegloamingmusic

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Bom Natal!

Esperaremos pois entre os lençóis, protegidos de neves e giadas, e iremos colhendo o sono enquanto esperamos a que venha o Apalpador para nos deixar ao pé da cama umha maga de castanhas e um ferrado de esperanças. Porque temos muita falta delas para este ano que se nos bota enriba...

sábado, 17 de dezembro de 2011

Fiddle 2.0

Criar, acumular, armazenar. Sons estranhos emergem de um simples fiddle e vam pinga a pinga caindo nalgo que cremos mui similar à memória, esse baú, esse açude. Esse pántano, seria bem dizer. E, justo a seguir, a melodia, fragmentada, rota, chegando aos nossos ouvidos como um corpo mutilado, como umha beleza proscrita:



Noutras entregas deste blogue pugem a música de Eoghan Neff como exemplo do que eu entendo por poesia, e vendo e escuitando isto que hoje partilho com vós nom fago mais que reafirmar-me no dito. A Eoghan haveria que estudá-lo nas faculdades de Filologia. Ou seria melhor nom estudá-lo? Talvez. Limitar-se simplesmente a desfrutá-lo como desfrutaríamos de um copo de licor clandestino, refugiados da chuva nalgum bar desses que nom aparece nas guias turísticas.
Com Eoghan conversamos há umhas semanas em Lisboa, após um concerto dos Assembly Point num pub do Cais do Sodré. E na conversa saíu outro nome, o doutro violinista que já tem visitado este blogue como é Caoimhín Ó Raghallaig. Os seus experimentos com o fiddle, nom menos temerários e vivificadores que os de Eoghan, geram às vezes momentos de umha beleza tam singela e original como esta:



E com os ecos deste fiddle reinventado (quase re-inaugurado, se me permitirdes o neologismo), desejo-vos umha boa fim-de-semana desde o frio e o vento que asolam estes dias o país dos txinberos.