quinta-feira, 22 de março de 2012

Umha de cemitérios

Entre o cemitério de Begoña, em Bilbo, e o de Santa Maria de Trovo, na Terra Chá, pode haver uns quinhentos quilómetros de distáncia. 
Mais ou menos a mesma distáncia parece existir entre as duas mentalidades que gerárom estas rimas admonitórias colocadas na entrada de cada um desses dous recintos. 
O de Begoña: solene, binário (Céu e Inferno, glória e condenaçom), um bocadinho trágico quiçá. Bem nos pode lembrar o desconcerto e a angústia vitais de um Jorge de Manrique.


O de Trovo: há também admoestaçom, aceptaçom resignada, consciência do inevitável. Mas aqui som os defuntos os que falam, os que se fam donos da voz. E imaginamo-los transmutados em retranqueiros esqueletes, com os ossos a brilharen sob o luar chairego. Quiçá um deles seja posuidor de um olho de vidro. E afinal, e sentindo-o muito polo cuitado dom Ramoncinho d'Os velhos nom devem de namorar-se, todos, absolutamente todos, seremos uns...


E por aquilo da continuidade atlántica e das irmandades galaico-portuguesas, pode estranhar-lhe a alguém que encontremos exatamente a mesma mensagem e a mesma palpitaçom -metade trágica, metade escarnina- outros quinhentos quilómetros mais ao sul, concretamente em Évora?


4 comentários:

  1. Hosti, meu, com carinho dos bascos... O(s) nosso(s)!!! :-P Ta aí essa mala carrage que temos, junto com esse aquel de que o Além está tamém desta banda: Falam os defuntos e os vivos escoitam! (Surpreende-me o de Évora, by the way :-)

    ResponderEliminar
  2. Pois concordo plenamente contigo. O de Évora é um pouco a metáfora do que aconteceu noutras ordens (como a linguística): os portugueses tomárom a nossa sensibilidade comum, o nosso fundo de retranca, e elevárom-no a discurso culto. Nom há mais que ver a solenidade e o refinamento dessa porta em que aparece a inscriçom e contrastá-la com a entrada ao cemitério de Trovo. Eu, de todos os jeitos, prefiro mil vezes esta última... :p

    ResponderEliminar