Entre o cemitério de Begoña, em Bilbo, e o de Santa Maria de Trovo, na Terra Chá, pode haver uns quinhentos quilómetros de distáncia.
Mais ou menos a mesma distáncia parece existir entre as duas mentalidades que gerárom estas rimas admonitórias colocadas na entrada de cada um desses dous recintos.
O de Begoña: solene, binário (Céu e Inferno, glória e condenaçom), um
bocadinho trágico quiçá. Bem nos pode lembrar o desconcerto e a angústia
vitais de um Jorge de Manrique.
O de Trovo: há também admoestaçom, aceptaçom resignada, consciência do inevitável. Mas aqui som os defuntos os que falam, os que se fam donos da voz. E imaginamo-los transmutados em retranqueiros esqueletes, com os ossos a brilharen sob o luar chairego. Quiçá um deles seja posuidor de um olho de vidro. E afinal, e sentindo-o muito polo cuitado dom Ramoncinho d'Os velhos nom devem de namorar-se, todos, absolutamente todos, seremos uns...
E por aquilo da continuidade atlántica e das irmandades galaico-portuguesas, pode estranhar-lhe a alguém que encontremos exatamente a mesma mensagem e a mesma palpitaçom -metade trágica, metade escarnina- outros quinhentos quilómetros mais ao sul, concretamente em Évora?
Boiiiiiiiiiíssimo! :-)
ResponderEliminarHehehehe, qual deles, Cossue?
ResponderEliminarHosti, meu, com carinho dos bascos... O(s) nosso(s)!!! :-P Ta aí essa mala carrage que temos, junto com esse aquel de que o Além está tamém desta banda: Falam os defuntos e os vivos escoitam! (Surpreende-me o de Évora, by the way :-)
ResponderEliminarPois concordo plenamente contigo. O de Évora é um pouco a metáfora do que aconteceu noutras ordens (como a linguística): os portugueses tomárom a nossa sensibilidade comum, o nosso fundo de retranca, e elevárom-no a discurso culto. Nom há mais que ver a solenidade e o refinamento dessa porta em que aparece a inscriçom e contrastá-la com a entrada ao cemitério de Trovo. Eu, de todos os jeitos, prefiro mil vezes esta última... :p
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